Publicado em 19/05/2020
Ricardo Roveran
X-Men Origins trouxe o melhor Dentes de Sabre que o cinema podia esperar.
Eu arrisco dizer, analisando psicologicamente o contexto do cenário, que o anti-heroísmo do personagem é o mais próximo da fase adulta para uma personalidade em ambiente hostil.
A equipe e a ideia toda dos X-Men, conforme apresentada pela Marvel, é idealismo ingênuo: lutar pela diplomacia após a declaração de guerra, com baixas civis, bombardeio incessante, forças midiáticas produzindo difamação e máquina estatal no melhor estilo Obamagate, funcionando a todo vapor.
A diplomacia funciona no ambiente hostil apenas no pré-guerra e limitada, geopoliticamente aos embargos e sanções econômicas, como EUA fez com Irã na última década, desmoralizado os aiatolás de plantão em Teerã.
Após o primeiro passo fora dos incessantes acordos de paz, a ruptura diplomática está encerrada e o comportamento a lá Gandhi só conduz ao fracasso. O próprio Sun Tzu, 500 anos a. C. já prevenira o Oriente disso: a covardia conduz à perda da moral. Some-se o aparato contemporâneo: coloque um Soros pagando uma indústria de propaganda, multiplicando Pravda mundo afora no Project Syndicate e o que resulta é a síntese do Fight Club. Ou você luta pelo quer, ou você morre, e o que passa disso é desculpa para justificar estrogênio com narrativa textual.
Mao Tsé Tung matou, de fome, mais de 47 milhões de chineses. Stalin mais de 20 milhões de Russos. Lênin, Trotsky, Chávez, Castro, Maduro, Pol Pot, Hitler, Mussolini, entre outros, que desde Robespierre almejam a substituição de Cristo por si, e nenhum deles, absolutamente nenhum, foi derrotado por discursos e/ou argumentações.
Assim, discernindo entre silogismo e munição, me resta adiantar que a única resposta plausível ao cinismo é um belo cacete, do tipo que faz o sujeito acordar.
Na biologia isto se confirma: o rugido de um felino de grande porte, como leão ou tigre, trava o adversário e o desperta imediatamente para a realidade.
Assim, esperar que a diplomacia seja eficiente na guerra, é esperar que Nicolás Maduro se derreta lendo a Bíblia; que o PCC abandone o crime organizado após ler a Constituição; ou ainda, que o Hamás mude de ideia na Palestina, após um discurso de Macri, prudente e sofisticado na ONU.
Mesmo o ISIS não foi dizimado sem tiro, porrada e bomba.
Agora o Brasil se vê enjoado: um presidente eleito num sistema que de tão corrupto inaugurou um novo termo: "sabotarismo". Sim porque, o presidencialismo é apenas nominal e o Executivo soma forças de 27 unidades federativas contra o mandatário eleito por 57,7 milhões de votos no pleito de 2018; a Constituição de 1988 é proto-parlamentarista e já demonstrou a eficácia ao instrumentar o Congresso Nacional, onde 513 deputados e 81 senadores que não receiam afrontar o desejo popular; e, um autoritarismo competitivo do Judiciário que inauguraria o "judiciarismo", ou "ditadura da toga", para os mais íntimos. Assim, sabotando-se a cada respiração do presidente, o ecossistema político
brasileiro toca a sinfonia fúnebre que divide espaço na opinião pública com as festas de Gana.
Enquanto isso, milhões de CPF's perdem empregos e esperança para o coronavírus, cuja realidade foge aos olhos dos espectadores do espetáculo dantesco cujo ingresso ninguém solicitou.
Eis aí o cenário: a guerra está posta à mesa e no ar paira a tensão, que facilmente poderia ser detectada com auxílio de uma faca cega.
É fim de maio. Quinto mês do segundo ano da primeira gestão de um conservador por excelência.
Fogo na Amazônia, manchas de óleo na costa marítima, CPMI do terceiro turno, inquérito do fim do mundo no Supremo, dança das cadeiras na equipe ministerial, pandemia chinesa. E a cada dia, o cidadão, prisioneiro desta cela chamada "condição de cidadão", faz um traço na parede, para que aquele fustigante episódio cotidiano não seja esquecido.
No pain no gain, e lá está a polícia socando outro CPF para agradar um prefeito nos confins de alguma província esquecida entre 5.565 municípios, pois o culpado aí cometeu o crime hediondo de andar sem máscara, fora do horário, ou qualquer outro decreto dos napoleões de fundo de quintal, nestes 5 mil e tantos quilômetros entre o Oiapoque e o Chuí.
Na Ucrânia jogaram um político na caçamba do lixo, mas depois pediram desculpa. Para a caçamba, que não merecia aquele tratamento. Tudo tem limite, né?
E haja caçamba se a moda pega pros tupiniquins.
É interessante delimitar o objeto analisado aqui: até onde vai a diplomacia? Qual a elasticidade real do ânimo fraterno que este povo está disposto a suportar? Seremos X-Mens? Ou estaria certo agora o Dentes de Sabre?
Eu não sei vocês, a ingenuidade tem limite. As mesmas Forças Armadas que entoaram Fibra de Herói, também já se viram batendo continência ao Foro de São Paulo.
É o que eu chamo de ingenuidade criminosa: é o cinismo de paletó e sentado numa cadeira num dos três poderes.
E que me desculpem os pacifistas, mas nessa, eu sou mais o Dentes de Sabre.
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